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Uma Cama Em Bruges
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empregado na morte lenta.
Ao fim de dez anos pode ter-se a reforma
por causa do gás no bandulho.Estou lá há catorze já, meu caro senhor,
há dois deles como motorista.
E nesses dois não precisei de vomitar nem uma vez,
por causa do ar fresco.
Nós, belgas, somos os melhores condutores da Europa inteira,
e eu já estive em todo o lado.
Porque somos perigosos a guiar.
E assim temos mais em conta os outros
que também são perigosos a guiar, mas sem quererem sabê-lo.
E sabe a coisa mais linda que estes olhos já viram?
E repare que estive na Capela Sixtina,
e que vi o rabo da Gisela do Mocambo ─
bom, foi numa loja de Bruges,
uma cama carmesim. Em Empire. Ou seria Luís XV?
Aí deitado, com a Gisela, havia de esquecer os meus três filhos
e o calendário inteiro.
O amor, caro senhor, tem de ser de cetim.
E a morte, caro senhor, é o que se sente no estômago
quando se sabe que nunca poderá comprar-se uma cama dessas.»
Tradução do neerlandês
Fernando Venâncio
Poeticamente roubado ao Aspirina B (ver link n'Os Gumes dos Outros).
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