29.3.08

Apontamento Sobre Arte e Estética:

É estético o que suscita o desejo. A Estética é a disciplina da voluptuosidade. A Arte é indiscutivel, indubitavelmente adogmática. O dogma que agora estabeleço não está na Arte mas fora dela e é de fora dela que eu o constituo como parte integrante de si. Os frutos da árvore que ela é podem cobrir-se de propósitos universais, mascarar-se, talvez, de Humanitários, podem dar-se, alugar-se, vender-se, apelar às massas. Mas quem os morde e os sente, o sentido que têm ou não têm, o agradável ou repelente que suscitam, o conforto ou o asco, o belo ou o feio, são sempre de um único homem ou o juízo de um particular. Podem até procurar impôr uma apreciação, um valor, promovê-lo no quadro da importância social, dar-lhe estatuto de lei, incuti-lo no padrão social de Bom e de Belo, talvez até (grave ofensa à Arte), de Moral. Mas não podem, aquém da máscara social, controlar a reacção do indivíduo perante aquilo que vê.

Música que ouço em não sei que espaço, eu quero-te no meu quarto, queria, talvez, ter sido eu a compôr-te… Colunas de não sei que templo, essa imponência apela ao meu desejo de ter-vos como parte material da minha porta… Quadro de não sei que cores, as minhas paredes brancas pedem-te que as enfeites, que lhes tires a palidez quotidiana… Mulher, doce mulher, de um qualquer Deus, enche o espaço vazio da minha cama! Se eu te desejo, tens a toda a Filosofia, toda a Moral, toda a Estética que suporto e até de que preciso! Se eu te quero, se acordas com força o meu desejo de posse, então, objecto, iguaria, espaço, temperatura, corpo, ar, seja o que fôr, se eu te quero, se eu te tenho amor, és sem dúvida Arte e essêncial! E eu hei-de ter-te até que enfim me farte, e que voltes, de novo, a ser banal…

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