
Se os livros estão por ordem, na sua prateleira, percebo que estão catalogados, e que o modo correcto de estarem é exactamente assim como estão. E mesmo não alcançando a intenção do autor e o critério que o expositor escolheu (o que normalmente acontece), considero, um pouco mais alto, para que à minha volta me ouçam e tudo pareça bem: «Que rica lombada! Que ordem! Que perfeição! O artista estava embrenhado de rigor estético!» E, considerado isto, vou-me embora, agradecendo muito a tolerância e o cuidado aos curadores do Museu. É no fundo o meu método de abarcar a realidade de um livro. Porque o meu método transmite esse consolo agradável de uma calma sensação de segurança, mesmo que esse consolo, essa segurança, não sejam mais do que a consequência natural de uma continuada representação de que me acho quase sempre consciente. No fundo, não leio: passo e finjo que leio. Finjo que compreendo. Finjo que sinto como é suposto sentir ou, simplesmente, que sou realmente capaz de sentir. Finjo que gosto de gostar.
É também assim que faço com a vida...
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