23.3.08

Equillibrium

La raison du plus fort est toujours la meilleure (La Fontaine). O cordeiro que bebe no riacho turva a água do lobo que o vigia, independentemente do sentido do rio. Não importa quem chegou primeiro, quem julga conhecer a verdade ou falar com razão. Apenas pesa na avaliação dos factos a relação entre a fome do lobo e a afronta do cordeiro de não se deixar comer. Se o cordeiro tivesse os dentes do lobo poderia talvez fazer-se entender. Mas se já se viram lobos com pele de cordeiro, quem ouviu falar do contrário? Assim, a fábula termina com a mutilação do inocente, símbolo eterno do sacrificado. Mas qual o seu sentido final? Apenas este: A Lei é do mais forte e nenhum pensamento pode vergar essa Lei. Pensar livremente é viver solitário ou ser comido. A razão académica é suprema face à razão sem estatuto. Os discípulos da pragmática submetem-se à razão institucional até serem eles mesmos uma extensão dessa verdade pragmática. Ser contra a Lei é ser inferior à Vida Social e marginalizado nos seus quadros de perfeita artificialidade. Primeiro torna-te um lobo e podes então depois expôr as razões do cordeiro. Mas nessa altura não será mais do que um exercício retórico, uma pequena birncadeira lógica. Porque uma vez lobo, há uma horda de rebanhos de cordeiros indefesos à espera de serem submetidos ao teu recém-adquirido e bem-amado poder. E que enorme desperdício seria ignorá-lo!

Sem comentários: