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É curioso notar o que pode, em cada pessoa particular, e em cada circunstância precisa e alterável, representar um alívio; e o que, por oposição, representa um fardo, uma tortura, um sufôco… Eu, por exemplo, sou de uma instabilidade assombrosa. E as contrariedades à minha personalidade, à minha natureza sensível, afectam-me profundamente, causam-me dores físicas e sentimentais, revoltam-me em explosões de raiva tão violentas que me assustam e envergonham. E, no final do espectáculo, sobra mais uma amostra da minha decadência e um engrossar do meu desprezo pelo Homem…
E o pior… O pior é essa desilusão amarga ao perceber que as minhas metáforas são inconcretizáveis. Talvez apenas por isso sejam metáforas… Mas a verdade é que a amargura fica, o ressentimento rói o nosso corpo, e o ofensor segue o seu caminho com um sorriso nos lábios e a cabeça nos ombros… E no entanto: Se é do acordo geral que decaímos, que fazemos do Mundo um armazém de excedentes, que o Futuro já não promete o esforço do progresso mas o da manutenção, que a Sociedade é uma pocilga que se alastra e não pede tolerâncias a ninguém, porque não avançar com o culto sério de cortar cabeças? É no fundo como retomar a ânsia déspota da Raínha de Copas, mas sendo nós, desta vez, quem segura o machado, para ceifar o crânio do Sistema…
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