6.4.08

Bairro Alto

O Bairro está cada vez melhor, mais completo, mais sofisticado. Descia eu ontem certa rua com um amigo, lutando virilmente por passar incólume através de uma turba de adolescentes bêbedos, quando um sujeito me aborda (a mim exclusivamente) com estas conspícuas palavras:

- Pessoal (repito, o pessoal era eu, portanto via-se que o "jovem" se achava em "estado de graça"), vai uma beca de ganza?
- Epá, não, obrigado...
- E coca, pá, e coca?
- Epá, não, obrigado...
- Mens, se precisarem tenho aqui uma automática...
- Epá, não, obri...

Epa, fui estúpido. Devia ter aceitado a automática. Explicava-lhe primeiro que eu era só um gajo e depois espetava-lhe com um tiro nas ventas. Libertava o meu stress e o Bairro de um dos seus traficantes. Já se sabe que ele ia explicar ao São Pedro que fora atraiçoado e despachado de surpresa por um bando:

- Escolhi mal os clientes, foi verdura... Abordei um pessoal manhoso para passar o produto e o pessoal fxxxx-me... Eram tantos meu Deus... desculpa, Pedro... Tenho a certeza de que se não fossem tantos até tinha conseguido esquivar-me das balas... Tipo a cena do Neo, "I'm the One", tás a ver, pá! Desculpa ó Deus, não queria tomar o teu lugar, é tipo um filme, man, tás a ver?

(Era também um pessoal de balas disparado num só tiro de pistola automática)...

E estes mongos são só peixe miúdo. É a loja dos 300 em modalidade caixeiro viajante para psicotrópicos e canos de espingarda. Agarrá-los é como apanhar uma formiga que nos veio ao jarro do açucar, e não descobrir nunca o ninho de onde ela aparece com mais 100 ou 1000 ou 100.000 companheiras. É tirar areia dos bolsos das calças e voltarmos a deitar-nos sobre as dunas do Sahara. É uma merda. É o país que temos. É aquilo em que o cada vez mais baixo Bairro Alto se está a tornar... As suas ruas estão cada vez mais estranhas. O seu percurso sempre mais duvidoso. A Rua da Rosa estendeu-se, alargou-se, é um país inteiro. Começa agora no Palácio de São Bento, faz esquina com a Câmara do Porto, passa pelo Estádio do Dragão e acaba na Assembleia da Répública. E de vez em quando até acolhe Cimeiras. Não sei bem para que servem, nem sei bem se são boas; mas batem bem, pá! Ora prova lá, sócio... - desculpem, pessoal...

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro, ainda me admiro que te tenhas aventurado em passeatas pelo Bairro Alto, em dia de Concerto da MTV, na Rua do Norte.
E não stresseies com os individuos que promovem as distribuição de ervas medicinais (para algumas pessoas), mesmo assim reagiste muito bem com a situação.

Miguel João Ferreira disse...

Muito obrigado. Esmerei-me. Ainda assim fiquei com a sensação de ter falhado para comigo e para com a comunidade. Continuo a achar que devia ter aceitado a automática. Quanto à primeira parte da tua observação, não sabia que havia concerto na rua do Norte. Mas quando cheguei tinha acabado de acabar, menos mal. Provavelmente era o JPP e Sus Hermanos, logo, não perdi nada :-D

Anónimo disse...

oi, chamo-me Márcia e estou a fazer um trabalho sobre o Bairro Alto. Agradecia se me pudesses ajudar com qualquer informação que me possas fornecer (artigos, ou mesmo criticas tuas porque me chamaram a atenção,etc).
Obrigada por qualquer ajuda que me possas dar.
^^