4.4.08

Numa Qualquer Estrada Nos Sentidos...

Numa qualquer estrada
No sentido que me leva às obrigações,
Todos os dias,
Sempre que passo,
Há um menino segurando um balão.

Esquecendo por espaços os deveres,
Redescubro a alegria de encontrar um balão
Entre as mãos de alguém
Que ainda brinque com ele.

À lembrança de mim desce a Saudade
De brincar livremente,
Sem ter em mais que pensar,
E a nostalgia de reter esse fio
Que acreditava levar-me ao firmamento.

Sorrio, brevemente,
Com uma lágrima breve.
Depois, continuo o meu caminho…

E longe já da imagem desse menino pequeno,
Que brinca descansado e sem certezas
Sentindo (não buscando) a tal Felicidade
(Inocente e perfeita),
Vivendo os seus minutos
(Que não conta
E que não sabe contar)
Sem máscaras
Ou obrigações,
Assalta-me a tristeza de saber
Que nem todos os meninos sabem
O que é um balão
E o que podem fazer com ele
E tudo o que um balão representa.

E ainda mais triste é a certeza clara,
Provada pela experiência,
Que esse menino, em breve,
Vai esquecer o balão
E com certo prazer vai usar uma máscara
E com um certo orgulho vai ter uma obrigação
E com toda a responsabilidade do Mundo
Vai ser infeliz…

Eu desisti de todas as obrigações.
Por isso não corro mais aquela estrada incerta
E a criança perdeu-se além do meu olhar.

Sempre que olho o céu
Procurando um sinal,
Na esperança ainda de ver o balão,
Não vejo mais do que os pássaros.

Ó tu que tens nojo da máscara
E desprezas como eu as responsabilidades!
Ó tu a quem faz falta a antiga altura
Em que nada
Havia
Que pensar!

Se acaso correres a mesma estrada
E encontrares nela a criança,
Diz-lhe que não esqueça
A magia sublime de segurar um balão!

Assusta-a com a tua máscara
Como se fora o papão
(Que ela de noite teme),
Como se fora a bruxa horrenda (com que treme),
Como se fora Deus a vomitar!
Mostra-lhe os reveses da bonança!

Onde há a calma, há mudança,
Há tempestade no mar
Há tempestade no mar...

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