Numa qualquer estrada
No sentido que me leva às obrigações,
Todos os dias,
Sempre que passo,
Há um menino segurando um balão.
Esquecendo por espaços os deveres,
Redescubro a alegria de encontrar um balão
Entre as mãos de alguém
Que ainda brinque com ele.
À lembrança de mim desce a Saudade
De brincar livremente,
Sem ter em mais que pensar,
E a nostalgia de reter esse fio
Que acreditava levar-me ao firmamento.
Sorrio, brevemente,
Com uma lágrima breve.
Depois, continuo o meu caminho…
E longe já da imagem desse menino pequeno,
Que brinca descansado e sem certezas
Sentindo (não buscando) a tal Felicidade
(Inocente e perfeita),
Vivendo os seus minutos
(Que não conta
E que não sabe contar)
Sem máscaras
Ou obrigações,
Assalta-me a tristeza de saber
Que nem todos os meninos sabem
O que é um balão
E o que podem fazer com ele
E tudo o que um balão representa.
E ainda mais triste é a certeza clara,
Provada pela experiência,
Que esse menino, em breve,
Vai esquecer o balão
E com certo prazer vai usar uma máscara
E com um certo orgulho vai ter uma obrigação
E com toda a responsabilidade do Mundo
Vai ser infeliz…
Eu desisti de todas as obrigações.
Por isso não corro mais aquela estrada incerta
E a criança perdeu-se além do meu olhar.
Sempre que olho o céu
Procurando um sinal,
Na esperança ainda de ver o balão,
Não vejo mais do que os pássaros.
Ó tu que tens nojo da máscara
E desprezas como eu as responsabilidades!
Ó tu a quem faz falta a antiga altura
Em que nada
Havia
Que pensar!
Se acaso correres a mesma estrada
E encontrares nela a criança,
Diz-lhe que não esqueça
A magia sublime de segurar um balão!
Assusta-a com a tua máscara
Como se fora o papão
(Que ela de noite teme),
Como se fora a bruxa horrenda (com que treme),
Como se fora Deus a vomitar!
Mostra-lhe os reveses da bonança!
Onde há a calma, há mudança,
Há tempestade no mar
Há tempestade no mar...
4.4.08
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