9.4.08

Do Divino

a) Cristo nasceu dos densos medos dos Homens. Por temerem o imortal desconhecido mistificaram o crucificado em mistério, meio pelo qual um corpo vivo ou inanimado se deifíca e sacraliza. Sacralizar, por seu lado, é dar resposta de lei ao que não tem lei nem resposta e um sentido final e único ao que não é mais do que mero objecto distorcido num símbolo. Cristo foi assim (como outros ícones seus semelhantes) moldado num grande mito de modo a conseguir o poder de tornar acessível o absurdo do mundo e o seu vácuo aos que temem demasiado observar-se e não suportam a ideia de ignorar. O Homem fez-se, deste modo, um deus que se fez rei, um mito sobre o trono de toda a raça Humana. O mito, porém, é insuficiente por si mesmo; e um Senhor, para governar, precisa de súbditos. Que fazer, então, para salvar o mito? Render toda a razão aos caprichos da Fé, deixar a lógica às mãos da estupidez, o juízo privado no algoz do dogma… O preço da explicação sublime do Universo e das coisas foi o perder-se o sentido de Universo e de coisas, o que para o Homem corresponde a abdicar da liberdade individual pelo bem do conforto da sensação de alma, obliterar-se em nome de uma ideia, entregar-se a si mesmo como escravo…

b) Há muito tempo, numa língua antiga que já ninguém fala, "Fé" do latim fede e do português "fede" (que reflecte o seu odor nauseabundo) dizia-se: Marg-Ha-Rid-Ha, que veio a resultar no nome próprio Margarida. Eis porque é do Diabo a alma de Fausto…

2 comentários:

Anónimo disse...

Queria ser como o Edilberto Caipilinha e ter na ponta da língua um comentário incómodo, ordinário e viril, bem como anónimo. Mas sou uma sensível margarida silvestre, e na ponta da minha "lingus" apenas repousa a "cunni", tal como em cima do piano jaz o copo com veneno. E quem bebeu, morreu.
Pois não é que há tanto de divino, como de animal em cada um de nós. E tal que tudo se mistura, havendo animais divinos e divinos animais. Um divino adivinho disse num dia ébrio de vinho #divindades há sem fim, mas hoje vou comer esta assim#
Allez allez Michel allez, tu fait le monde être pleine de "chulê"

Miguel João Ferreira disse...

Este foi dos comentários mais poéticos e coerentes que recebi até hoje. Obrigado Rui. Gostei principalmente da chave de ouro no final. Nem um soneto daqueles bem chorados da Florbela consegue acarretar tanta força. Que Deus te abençoe!! (que bem precisas)...
Que tal terras de Espanha? Pelo que vejo têm feito algum mal...