Diz o Público: Pinto da Costa não acredita em condenação. Pois... O Gume também não...Mas reza muito e tem muita esperança...
"All I want now is to look at life. You may come and look at it with me, if you care to". Lord Henry, in The Picture of Dorian Gray, Chapter 3 (ending).
Diz o Público: Pinto da Costa não acredita em condenação. Pois... O Gume também não...
Notícia de hoje do «Público» que se pode ver aqui. O «Público» soube da notícia. O Gume esteve lá. E foi isto que ouviu:
...Hoje é a Cidade dos 7 Buracos. Nunca fomos tão profícuos, tão empreendedores, tão profissionais a melhorar a rede de transportes. Agora, Sr. Turista, estamos muito bem de gestão e podemos gastar milhões em obras. Melhorar os transportes é obrigação do Estado e é um benefício para todo o país. Tudo foi pensado ao pormenor, escolheram-se as melhores opções. Os maiores especialistas entraram já em acção, todos os estudos foram feitos, tomámos a via mais económica, tivemos atenção ao ambiente, seguimos as normas comunitárias, servimos as populações, respeitamos a segurança. Portugal, ainda que lentamente, caminha para a perfeição. Esta nova linha Cascais - Entrecampos (que trará milhares de passageiros e estreitará a distância entre estes dois pontos para 40 minutos apenas) é excepcional, quase única no mundo e só pode resultar em bonomia. Santa Apolónia vai ter mais um fosso, tal como o Saldanha, tal como o Cais do Sodré, tal como o MarquÊs, tal como outros lugares que não me ocorrem. Mais tais fossos são o princípio da ascenção do progresso. Se esse progresso chega só em 2013 ou 2015 ou 2020, cumprindo-se mais ou menos prazos e orçamentos, deixando buracos físicos e financeiros de dezenas de anos, não importa. Importa sim a intenção empreendedora deste Governo e daqueles que o Presidem. Importa a imagem. Importa a sua alienação. Porque Portugal, para "cámon en vacances"´e que ande assim "en passage" com o olhinho meio cerrado é "very beautiful", o Sr. Turista não acha?
a-lhe aí Joãozinho a regra númar'um!
O genial e poético clássico de ficção científica, Blade Runner, (a obra-prima por excelência do inconstante Ridley Scott, com banda sonora de luxo de Vangelis - o seu melhor trabalho), volta às salas de cinema, 25 anos depois da estreia, numa versão comemorativa. Visto pela primeira vez em Portugal em 1983, no Fantasporto (estreado nos Estados Unidos em 82) , o filme tem re-estreia marcada para quinta-feira, 24 de Abril, numa nova versão, para além das 5 já existentes - The Director's Cut e outras 4 de arquivo. O Gume, fanático por obras-primas, cometeu a loucura de adquirir a edição especial em dvd e tem andado a regalar-se com as várias facetas deste filme que é, ao jeito de Nietzsche, demasiado humano. Tão humano, aliás, que nos faz questionar a nossa própria noção de "ser natural". O que é a Humanidade enquanto qualdiade de uma espécie, característica distintiva de outras ditas selvagens ou elementarmente animais (ou mecânicas)? Até que ponto não nos confundimos com os circuitos das máquinas, e até que ponto uma criação artificial, quanto mais completa, não se aproxima de nós, não reflecte as nossas ansiedades, os nossos dramas, o nosso problema da existência? A questão de Philip K. Dick (enunciada como título da obra escrita em 1966 que depois deu origem ao filme de Scott) é por demais pertinente (e cada vez mais pertinente): "Do Androids Dream of Electric Sheep?". E com que sonhamos nós? Os autores do argumento (Hampton e Peoples) alteraram-no substancialmente em relação à obra de Dick (de que sobreviveu o sentido, o fio condutor), e os próprios actores, como o fantástico Rutger Hauer (o lider andróide Roy Batty) contribuiram de forma indelével para a criação de momentos de verdadeira elegância no argumento, caso do seu belíssimo discurso final, na já icónica batalha à chuva com Deckard (Harrison Ford). Mas livro e filme (e mais reinvenções e interpretações que deles façam) mantêm a questão central sobre a natureza do Homem e a sua febre inata de conhecimento. Um e outro levam-nos a reflectir sobre o sentimento de revolta existencialista intrínseco a todo aquele que questiona, que põe em causa a visão "oficial" ou comum sobre qualquer aspecto da realidade ou da vida. O encontro de Batty com o brilhante Dr. Eldon Tyrell (também ele um "replicant" de acordo com certas interpretações/versões do argumento/filme - dúvida igualmente imposta ao implacável Deckard) é facilmente equiparável ao confronto entre o Orestes de Sartre e Zeus, seu criador (Cf. Sartre, Les Mouches, 1943). E até mesmo as respostas de um e outro "deus", não diferirão muito no sentido. Tyrell é mais discreto, mais subtil do que Zeus na sua arrogância, mas em ambos os "omnipotentes" se acha a mesma frieza objectiva, o mesmo orgulho da criação, a mesma noção de superioridade numa desiquilibrada relação de Poder. E o fim irónico de Tyrell limita-se a ser mais ilustrativo e fisicamente violento do que o de Zeus sartriano, pois também o segundo perece (o símbolo é, creio, a mais poderosa e perigosa das armas) sob o peso da vontade/afirmação da liberdade individual de Orestes. No entanto, esta descoberta da individualidade/liberdade alimenta (como efeito secundário) o desejo de vida eterna; segue-se, pois (inevitável), a luta pela sobrevivência, pela utopia da perfeição. Blade Runner é um olhar sobre estas angústias típicas de cada consciência, uma análise do sentido de ser, um lamento sobre a efemeridade da vida num universo simbólico de eras futuristas que cada vez mais se firmam no tempo em que vivemos (como já então se firmavam).
E uns deitam-se nela, outros plantam uma árvore, outras atiram-na aos olhos de ingénuos e das massas, outrs usam-na como esconderijo, outros para tratamentos para a pele, outrso como lugar de pesquisa, outros como lugar de rituais, outros usam-na como palco de guerras, teatros, manifestações...
Por este andar, estou condenado a conduzir só destas coisas:

entupido à D. Cremilda (a minha vizinha do lado) quando fica presa no elevador cá do prédio. No caso da vizinha levo-lhes um pouco mal, mas compreendo a sua propensão para o bem. Tornou-se neles um vício de quem por pouco faz muito. Ao Estado, um apelo para que lhes sejam dadas melhores condições. E a estes simpáticos super-heróis modernos um grande "bem haja". A Floresta agradece; e a Fada do lar também...
Roger Federer venceu o Estoril Open após largo jejum de finais e vitória
s, sobre o 4º lugar do Ranking Mundial Nikolay Davydenko. Federer é incontestavelmente o melhor jogador de ténis da actualidade e foi uma pena ser obrigado a vencer por desistência num jogo que pro
metia muito como espetáculo de ténis, já que Davydenko, apesar das dificuldades de adaptação ao terreno incialmente sentidas, revelava uma notável postura competitiva e uma clara subida de performance. Em resumo, uma distenção muscular inviabilizou um grande encontro e forçou um desfecho inédito em 19 anos deEstoril Open: vitória por desistência do adversário.
Atingido o milhão de assinaturas enviaremos a petição a aprovação parlamentar e depois disso ao Papa BentoXVI para abençoar o decreto. Seguir-se-à como
bonus uma encomenda de voodoo à feiticeira Jahmal da Costa Este da Jamaica com a fotografia do Presidente chinês. A sugestão do Gume é pedir que nas entranhas do "Plesidente" nasçam e cresçam lombrigas do tamanho de um boi (dos maiorzinhos) e que, lentamente, lhe roam o intestino delgado e depois o grosso de modo a que se distribua uniformemente a substância primordial de que, parece, ele é feito. Mas aceitam-se sugestões mais recriativas e producentes.
ho em honra das barbas de Zeus e do pezinho esquerdo de Artémis (para com maior exactidão caçar a vitória no torneio). E não seria preciso assistir ao triste espetáculo que foi ver uma série de manifestantes indignados apagar a tocha Olímpica num modo desesperado (para os mais conscientes das suas reinvindicações) de pedir a mais do que justa e necessária libertação do Tibete.
Se eu fizer metade do que fez um velho de 70 anos em apenas 6 meses de aflição oncológica, na minha vida inteira, considero-me um homem feliz.
«Hoje - explicou-me o meu amigo quando veio a minha casa - estou de mudanças: Ando a mudar-me da direita para a esquerda do Pai por mera conveniência política. Noutros tempos era no próprio colo do Senhor que eu me sentava (um pouco ao jeito do que o Márinho fez com aquela tartaruga!) , mas o velho já não está para cantigas. O que comprovo destas mudanças de lado, é que, quer na núvem da direita quer na outra da esquerda, me vejo mal instalado. E isto de mudar a tralha e a camisa com o mudar constante de uma e outra ideologia, é uma estafa! Não tivesse eu um importante papel a cumprir, e descia lá do alto onde estou, para viver calmamente entre o comum dos mortais... E, no entanto, vendo bem, isto por aqui anda tão miserável! Aliás, essa miséria vê-se bem no que comemos! - eu protestei, mas Tomé logo me fez ver a razão - Como podes tu contrariar-me quando este chá é quase um copo de água? E que dizer dessas bolachas, de há uma semana, sem açucar nem sal? E desse pão ressequido? E dessa manteiga com sabor a ranço? É isto que se oferece a um santo?! Pouca vergonha!» Tentei explicar ao meu amigo que era difícil ter boas coisas em casa quando se tenta viver apenas do seu trabalho honesto. Desta vez o meu Tomé zangou-se a sério: «E julgas tu que eu não sei? Eu tenho dois mil anos! Quem pensas tu que ensinas?! Porque achas tu que há mais de dois milénios eu ando de núvem em núvem, sempre a trocar de camisa, com a tralha toda atrás das costas e a decorar novas frases de ordem, novas ideologias? Para aconchegar a asa ao Criador? Para lhe ver as vestes remendadas? Para apreciar a paisagem de um e de outro lado do Céu? Não! Eu sigo o curso das estrelas, vejo os sinais dos tempos, adequo o meu ânimo descrente à crença de cada tempestade! É por isso que a minha vida é um conforto! Francamente! Um calmeirão desse tamanho e ainda não aprendeste! Ora deixa lá que tu assim vais longe! Vê mas é se tens juízo, em vez de andares com ideias, e se começas a transmitir às gentes deste mundo que o sensato na vida é mandriar e estar apenas atento a quem se vai sentando n'A Cadeira para lhe engraxar as botinhas, lhe ajeitar o colarinho, lhe pentear o cabelo, mudar a côr da camisa para aquela côr que ele veste, e estar na direita ou na esquerda ao sabor das correntes! Entendeste?! Olha o paspalho! Eu venho aqui comer para o educar, e o inútil a largar postas de pescada! Quem lhe desse com o peixe nas ventas!». E assim foi: do assombro do nada surgiu uma pescad
a e, num golpe digno de um lutador de sumo, o sacana do santo vai de me dar com a maldita pescada na vista, e de tal modo, que ainda conservo um olho negro! Confesso, irmãos, que me doeu mais o coração do golpe do que o olho inflamado que ainda me assusta no espelho. Quase chorei, emudeci arrasado. O meu amigo, pensei, o meu próprio amigo, a atentar-me deste modo ao olho?! É pungente... Mas com Tomé é comum: o seu método de ensino reside no choque. Se por choque se entender adequado eu ser espancado até à exaustão, será então essa a medida a tomar. Para o meu santo é importante a disciplina e é evidente que qualquer disciplina exige sacrifício. De facto, agora, ao longe, reparo que um ou outro espancamento ocasional nos dá certa clarividência. É espantoso! Senão, veja-se o exemplo: Estou em casa, sozinho, depois de ele ter já ido embora, amuado e bruto, e acendo a televisão para espairecer. Como um poltergeist enclausurado, surgem-me de lá, horrorosas, a voz e a figura do Sócrates, esse ministro que temos por estranho hábito designar por primeiro. Ele fala. Ele explica. Ele desenvolve. E eu reconheço nele, por força da lição do meu santo, um colossal ascetismo: tantas vezes vimos este herói da boa vontade e da perseverança mudar de camisa! Tantas vezes o vimos a resgatar da poeira antiga (ou da Futura!, anacronismo excelente!) novas, remendadas, reachadas ideologias! Tantas vezes se desdisse desdizendo que dissera o que o ouvimos dizer dizendo que não diria o que disse! Tantas vezes nos falou em levantar Portugal! E de todas essas vezes o que ele afinal fazia era caminhar da direita para a esquerda do Pai (cujo nome real é Despotismo), passear de núvem em núvem, de mentira em mentira, para nos dar a entender (oh!, Sublime!, também tu és santo!) um novo ideal de Homem... Agora pergunto: Teria eu entendido este ascetismo se não tivesse Tomé tido a bondade de me aplicar aquele bofetão? Esta é, irmão, portanto, a lição de hoje: A disciplina é tudo. A gentileza é uma coisa bonita, mas, de quando em quando, todo o Homem precisa de um golpe. A Humanidade dorme e tu, mais iluminado, tens de fazer por acordá-la. Não te restrinjas, não te coíbas: Vai pelo Mundo e Age. Sê verdadeiramente Cristão: Espanca e Educa. Amen. 
(Balneário XXI):
- Chegamos agora à vez deste senhor. Por favor, apresente-se em cinco linhas...
Diz que para anular a concorrência interna e que, como tem sido costume na sua liderança, ao contrário do que disse, se desdizer, recandidatando-se para de novo vencer e de novo levar o PSD à miséria e de novo se demitir, talvez de vez.
selhado.
- Bom pá, vocês são tão coxos, ãh, que deixam que uma cambada de azelhas, ãh, uma cambada de azelhas, que deixam, ãh, que azelhas pá, ãh, como, como os gajos do Benfica, do Benfica, ãh, que mamam 3 pá, 3, da Académica, ãh, em casa porra, em casa!,vos esteja a dar, vos esteja a dar 2 secos, 2 secos, sem sequer se esforçarem, ãh? . Como estou a ver, pá, que não vos posso, pá, já ver à frente, à frente, ãh?, e que não me entendo com a vossa, com a vossa molenguice, com tranquilidade, com tranquilidade, ãh, mais ou
menos, mais ou menos a meia hora do fim, vão-me espetar, ãh, vão-me espetar aqui esta agulha, esta agulha de doping na nalga esquerda da peida, ãh, e vão ver, ãh, nesses mais ou menos, mais ou menos 30 minutos, ãh, vocês vão ver amanhã, amanhã com tranquilidade, com tranquilidade na televisão, na televisão, o que é, o que é, pá, jogar a sério, ãh?!
quem tenha notícias. É só encontrá-lo, apontei-o aqui algures...
...E finalmente cheguei, estava cansado, a luz era pouca. Sentei-me no chão, sem cuiddado, sem pensar no fato que se estragava, na gravata que tirei e atirei para longe, nos sapatos que perdiam a forma sob o corpo mole (mas pesado), no jarro que derrubei, nas flores que morriam, na água que se alastrava e me molhava os pés. Liguei o aquecedor velho que já não funcionava, que já não aquecia, que apenas soltava num silêncio cínico o seu gaz indiferente. Pensei em ti, pensei em mim, pensei no dentro e no fora, pensei em coisa nenhuma. Vi as sombras no tecto, vi as longas persianas, ouvi um relógio dar a hora ao longe, ouvi a buzina de um carro em baixo, ouvi os gritos do casal ao lado (onde o amor, amor, que antes sentia?), provei o inominável. Tu compreendes, eu compreendo, compreendemostodos: tudo é egoísmo. Eu sinto, tu sentes, e já sentiste assim.Compreendo, compreendes, conheces como eu a saturação da existência, a sensação de acordares um dia e não apetecer mais nada. Acordas como se adormecesses.
Porra que não me apetece fazer nenhum!!! Alguém tem uma aspirina p'r'á preguiça?? Que terrível dor de vontade, meu Deus!
(Chegou-me por e-mail) A MATEMÁTICA COMO DEVIA SER (PORQUE URGE ACOMPANHAR OS TEMPOS:
omo ensino da matemática, não mais haveria chumbos...
São Tomé foi Santo porque negou Cristo para além das evidências, e não por não ter acreditado nas chagas. De facto, é preciso ser-se superlativamente obstinado para recusar a matéria palpável. Essa obstinação é um atributo do mártir. Tomé jura, porém, que não foi o Cristo-Homem que negou mas a sua transcendência. A meu ver, isto está certo. Porque foi então que o santificaram? Ainda hoje ele se faz essa pergunta, entre o creme de beleza da manhã e o sono reparador da noite. Perguntará o blogonauta mais desconfiado e precavido como tenho eu acesso a tais informações. Poderia, legitimamente, recusar-me a revelar a fonte. Por honestidade, porém, não o faço. A verdade é que, pela hora da ceia, o amigo Tomé vem visitar-me, com um chazinho de menta e umas bolachas de cacau e mel. Empanturramo-nos os dois severamente e conversamos pelas tantas da manhã. Este São Tomé que Me Fala (como eu gosto de dizer e já publiquei em livro - pela editora Papiro, creio eu, mudando o me para vos para lhe conferir um carácter mais geral) é moderno e jovial e sabe falar sobre tudo. Tem, todavia, a tendência irritante de desembocar no cepticismo; ainda assim, não obstante tão enfadonha e triste limitação, dá gosto falar com ele. Contou-me muitos segredos do Universo e da Vida, explicando-me e demonstrando-me como era tudo mentira. Eu creio que, por vezes, o meu amigo exagera. Mas tenho de lhe dar o crédito de uma sabedoria milenar e do infalível vaticíno da experiência. Afinal, quem pode negar a primazia do empirismo sobre a metafísica? Pelo meu amigo Tomé eu soube, não sem algum constrangimento, que fui escolhido por Zeus (ou por Deus? ou por Ateus? ou...?) para liderar as ovelhinhas do globo para o abismo do Cepticismo Absoluto onde encontrarão a Salvação Eterna. A promessa, como qualquer promessa, é paradoxal e estranha. «Não faz sentido, Tomé!» - gritei-lhe eu perplexo - «Como pode ser que o abismo nos salve?». A que ele me respondeu: «Bem se vê que estás cego.» - Tomé gosta de falar por imagens e enigmas - «O Abismo do Cepticismo não é mais do que o poço fundo onde se deitam fora os fatos velhos das crenças. Não há verdades no Mundo, apenas convicções profundas. Porque tens de viver de acordo com as convicções dos outros? Pensa por ti próprio». Foi então que percebi que também Tomé era um crente, um idealista. De facto, como podemos pedir à simples ovelhinha tresmalhada que deixe de seguir o pastor e que canse muito o neuroniozinho (programado apenas para a capacidade motora) para tomar por si mesma as suas decisões? Qualquer ovelha gosta que se lhe mostre o caminho do pasto. A ovelha portuguesa, prefere até, se possível, que se lhe arranque a ervinha e se lha dê já mascada, pronta a engolir. Se engolida vier já, melhor ainda. Com que direito e feitiço se lhe há-de então exigir que escolha um rumo, que reflicta, que discuta, que construa? Foi aqui que Tomé se zangou comigo e partiu. Muitas noites, pelas sextas-feiras, ele vem ter comigo, me revela coisas sobre o Princípio, o Meio e o Fim dos Tempos e depois parte amuado com qualquer coisa feia que eu lhe digo. Poderão dizer que sou eu que sou duro. Talvez seja verdade. Mas a minha convicção mais profunda é que Tomé não acredita em si prórpio; ou talvez não seja mais que um paradoxo...
Debalde se debate sobre a Génese. O Mundo só existe na medida do Homem; e só nela se afirma e encontra um lugar…
a) Cristo nasceu dos densos medos dos Homens. Por temerem o imortal desconhecido mistificaram o crucificado em mistério, meio pelo qual um corpo vivo ou inanimado se deifíca e sacraliza. Sacralizar, por seu lado, é dar resposta de lei ao que não tem lei nem resposta e um sentido final e único ao que não é mais do que mero objecto distorcido num símbolo. Cristo foi assim (como outros ícones seus semelhantes) moldado num grande mito de modo a conseguir o poder de tornar acessível o absurdo do mundo e o seu vácuo aos que temem demasiado observar-se e não suportam a ideia de ignorar. O Homem fez-se, deste modo, um deus que se fez rei, um mito sobre o trono de toda a raça Humana. O mito, porém, é insuficiente por si mesmo; e um Senhor, para governar, precisa de súbditos. Que fazer, então, para salvar o mito? Render toda a razão aos caprichos da Fé, deixar a lógica às mãos da estupidez, o juízo privado no algoz do dogma… O preço da explicação sublime do Universo e das coisas foi o perder-se o sentido de Universo e de coisas, o que para o Homem corresponde a abdicar da liberdade individual pelo bem do conforto da sensação de alma, obliterar-se em nome de uma ideia, entregar-se a si mesmo como escravo…
A questão não é linguística e sobressaiem até dúvidas de que deva sê-lo. É política, é cultural, é social. É a relação real entre os países da suposta lusofonia. É a manifestação exacta de como se suportam, uma vez tolhida a máscara da hipocrisia com que se apertam as mãos e fazem os seus negócios. Falamos de um desentendimento profundo e histórico sobre uma forma de estar; sobre a afirmação de uma independência que ainda sente feridas, de uma discórdia antiga mal curada. No fundo, o Desacordo é o resumo das relações ditas lusófonas: um completo fiasco diplomático. E há ainda quem se arrisque a falar de fraternidade... Optimistas distraídos, políticos desonestos, utopistas da língua, liberias, conservadores, que importa?
…O Homem Ilustre que come em casa do pobre… «Para onde fugiu a galinha? Zézé, foi você que pegou a galinha? Fernando, foi você que pegou a galinha? Miguel, foi você…?» Na minha casa de menino havia um aviário… Mamãe matava galinhas para servir o Homem Ilustre que ia de visita. O Homem Ilustre era um grande fato sem rosto. Ele adorava frango de cabidela e fazia negócio de escravos na sua fábrica de sabonetes. «Onde pôs você a galinha seu danado?!» «Eu não fui eu, não, nem que eu não vi galinha não por aí!…»Na minha casa de grande há uma prisão sem grades… Há aviários de homens como de galinhas, há homens que matam como predadores… Uma vez um czar que caçava homens (Drummond) achou crueldade caçar borboletas (Anedota Búlgara)… Homem de Cabidela para os senhores do Mundo… O Homem Ilustre vem almoçar amanhã…Guerras Antigas, meus romanos, meus persas, guerras modernas,
primeiras e segundas, guerras recentes por Diabo e por Deus… Homens perdidos nas fábricas, esmagados na prisão dos dias, nos campos de concentração do quotidiano… Auschwitz não morreu em 1945. Auschwitz não matou apenas os judeus. Auschwitz não fica só em Auschwitz. Na cidade onde eu moro há um lugar tenebroso… Auschwitz sou eu…A Humanidade é um polvo que se alimenta do sangue dos inocentes… Mas suponhamos que injecto arsénico nas veias e que a Humanidade inteira faria um festim de mim… Que melhor fim para esta vida feia? Que melhor fim?!