O Homem é um animal de hábitos. O que ele é não é como ele nasce mas depois de nascer o que lhe dão. Esta circunstância inevitável é uma amputação da personalidade, porque implica que, à partida, a natureza das nossas escolhas (que moldarão e se moldarao pelo nosso carácter) estará condiconada pelo ambiente em que crescemos. Isto doi. Mas doi mais a ironia que contém: Pois, se seguirmos a nossa evolução (da criança ao Homem, do estudante ao trabalhador, do inconsciente ao responsável, do ingénuo ao avisado, do ignorante ao culto, do rebelde ao institucionalizado…) acabaremos por nos confrontar(mos) com o facto de sermos uma fera que se amansa pelas infindáveis leis da vida, acabando depois, com o cansaço dos anos, por precisar do jugo que se tornou familiar. As correntes da juventude foram limadas por anos de habituação e tornaram-se um símbolo de refúgio. A memória distorce-se entre as responsabilidades e as escolhas, fazendo do que era uma vontade uma espécie de tédio, do que era um princípio um exemplo do erro, do que era convicção uma casmurrice, do que era uma crença um devaneio. O que desprezávamos passa a parecer-nos bom, o que nos magoava traz-nos a nostalgia do que pudemos já realizar. É no fundo como assistir à domesticação de um chimpanzé selvagem que começa por aprender alguns truques em troca de bananas para acabar por precisar das bananas por lhe lembrarem os truques que fazia…
24.3.08
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